Portugal é o segundo país que mais avança no ranking mundial da competitividade

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No estudo sobre a competitividade dos países realizado pelo IMD, Portugal é o que apresenta mais melhorias, tendo subido 7 posições no ranking, alcançando o 36º lugar, apenas Itália, que subiu 8 posições, suplantou esta escalada.

O IMD – Institute for Management Development, conhecida escola de negócios suíça – atualizou há pouco tempo o ranking que elabora todos os anos desde 1989 sobre a competitividade geral dos países, baseado numa pesquisa mundial líder quando à análise comparativa das competências de uma nação para proporcionar um ambiente que sustente a competitividade das empresas.

No relatório de competitividade são analisados 61 países e considerados quatro fatores principais: a eficiência empresarial, a eficiência governamental, o desempenho económico e a qualidade das infra-estruturas. Estes quatro factores incluem vinte subfactores, nomeadamente finanças públicas, politica fiscal, mercado de trabalho, sistema financeiro, práticas de gestão, atitudes e valores, produtividade e educação.

Esta última edição do ranking, embora continue a posicionar Portugal na metade inferior da tabela mundial (mas à frente da nossa vizinha Espanha), faz denotar os esforços empreendidos com via a aumentar a atração empresarial. De facto, Portugal melhora a sua classificação em todos os quatro fatores: desempenho económico (passou da 54ª para a 45ª posição entre 61 países); eficiência do governo (passa da 48ª para 34ª posição); eficiência das empresas (passa do 52º para o 48º lugar) e qualidade das infra-estruturas (está no 26º posto, vindo do 29º).

Olhando ainda mais de perto para a paisagem da competitividade de Portugal, as melhores notas vão para o enquadramento legal da actividade das empresas (14º lugar em 61 países), para as infra-estruturas no domínio da educação (15º), para a evolução dos preços (21º) e para o desempenho no que respeita ao investimento internacional (22º). As piores classificações vão para a evolução do emprego (54º em 61), seguida da eficácia na gestão empresarial e das finanças públicas (em ambas Portugal está em 52º lugar, bem perto do fundo da tabela).

Quando se analisa a composição dos indicadores do ranking à lupa, Portugal chega a ter um primeiro lugar mundial com as leis da imigração e fica na cauda da tabela, em 60º lugar, quando o indicador medido é a dívida das empresas. Destaque positivo também para as start-ups portuguesas!

O ranking continua a ser liderado pelos Estados Unidos, seguem-se Hong Kong, Singapura, Suíça e Canadá. Em comunicado à imprensa, o diretor do centro de competitividade mundial do IMD, o professor Arturo Bris, comenta que numa análise geral do ranking deste ano, os países mais competitivos estão a voltar aos básicos (“the top countries are going back to the basics”, no original), na medida em que a produtividade e a eficiência são os principais pilares da competitividade. Fica a dica.

E fica também uma tabela com os pontos fortes e fracos do desempenho português nos vários subfatores analisados:

Pontos fortes Pontes fracos
Desempenho económico
Fluxo de investimento direto externo 9 Taxa de desemprego 57
Rendas dos escritórios 11 Desemprego jovem 54
Ameaça de deslocalização de serviços 11 Resiliência da economia 50
Eficiência governamental
Leis de imigração 1 Peso da dívida pública no PIB 58
Start-ups 2 Rating da dívida soberana 55
Procedimentos das start-ups 4 Impostos sobre o rendimento 55
Eficiência empresarial
Força de trabalho feminina 6 Dívida das empresas 60
Cultura nacional 11 Horas de trabalho 59
Ativos do setor bancário 14 Treino dos trabahadores 57
Qualidade das infra-estruturas
Despesa pública por aluno 3 Exportações de alta-tecnologia 55
Professor por aluno 4 Tarifas de telecomunicações fixas 47
Competências em tecnologias de informação 4 Custos de eletricidade para clientes industriais 46

 

Aqui pode consultar a listagem dos países segundo o ranking: http://cdn.negocios.xl.pt/files/2015-05/27-05-2015_16_30_47_Ranking_da_competitividade_dos_pa%C3%ADses.pdf

Fonte: Negócios
Foto: DR

E o melhor oceanário do mundo vai para…Lisboa

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Segundo os utilizadores do TripAdvisor, dito o maior portal de opiniões de viajantes, ­­ o prémio Traveler’s Choice na categoria dos aquários vai para o oceanário de Lisboa. Um grande reconhecimento internacional e que vai com certeza atrair ainda mais turistas, facilitando o trabalho da gestão do oceanário, que este ano passou para a esfera privada.

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Localizado no Parque das Nações, em Lisboa, o Oceanário foi inaugurado aquando da Expo 98, um grande marco no reencontro entre Portugal e a Política do Mar.

Já registou mais de 19 milhões de visitantes e conta com quase 11.000 avaliações no TripAdvisor, sendo que mais de 7.000 o declaram como “excelente”, o que coloca o Oceanário em primeiro lugar nos destinos mais populares de Lisboa no portal de viagens. A amostra é variada, em 2014 este recebeu turistas vindos de mais de 180 países diferentes!

Para João Falcato, administrador do Oceanário de Lisboa, o “reconhecimento atribuído” pelos visitantes é “um grande orgulho”. “Sentimos que a nossa missão de promover a literacia azul e de sensibilizar para a conservação dos ecossistemas marinhos, atravessa todos os oceanos e é reconhecida mundialmente”, referiu em comunicado o administrador do aquário.

Na lista dos 25 melhores aquários do mundo, o Oceanário de Lisboa partilha o top cinco com os norte-americanos Georgia Aquarium, Montery Bay Aquarium, Ripley’s Aquarium of the Smokies Exterior e o espanhol Oceanografic. O Aquário Vasco da Gama, em Algés, surge também na lista, na 17ª posição.

 

Pode consultar a lista do TripAdvisor aqui: http://www.tripadvisor.com/TravelersChoice-Attractions-cAquariums-g1

Fotos: DR

Ricardo Diniz – Ricardo-terra e Ricardo-mar (entrevista)

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Foi de facto uma entrevista, fui preparada para uma, mas no fundo o que tive foi uma conversa com o Ricardo, em que ele se deu a conhecer de uma forma tão sincera e brutal e em condições tão tranquilas que o título deveria ser “Em conversa com o Ricardo”. Depois de uma viagem de bicicleta e cacilheiro, chegou ao Terreiro do Paço, um dos seus sítios preferidos em Lisboa, mas nem fomos para nenhuma esplanada, caminhámos mais um pouco e escolhemos uma sombra no renovado Cais das Naus – por esta altura já ele me tinha pedido para esquecer formalidades e tratá-lo por tu – coisa que eu só consegui no final, já estava programada para a terceira pessoa. Decidi retratar esta conversa da forma mais fiel possível, tive de encurtá-la infelizmente, mas espero que quem quer que a leia consiga ter uma imagem minimamente aproximada da pessoa que é o Ricardo, não só do seu percurso e dos mil e um projetos em que está envolvido, mas da sua essência. 10305421_10152768681667506_2101443487589819909_n

Olá Ricardo, em primeiro lugar queria-lhe agradecer a sua disponibilidade para esta entrevista, pois calculo que o Ricardo-terra seja uma pessoa bastante ocupada, no meio de todos os projetos dos quais faz parte e na preparação e busca de patrocínios e apoios para as viagens do Ricardo-mar. Encontrei esta dualidade sua característica numa entrevista passada e achei-a curiosa, ainda vamos falar sobre isso melhor.

Mas agora, vamos começar talvez por falar sobre o seu percurso inicial até à decisão de se tornar um velejador solitário sempre com o intuito de “comunicar portugalidade”. O Ricardo aos 8 anos foi viver para Inglaterra, foram as saudades que o levaram a reconhecer tanto valor em Portugal?

Então antes de mais, e já que estamos a gravar, muito obrigada pelo convite, e parabéns pelo trabalho de casa, surpreendeste-me, porque essa coisa do Ricardo-mar e do Ricardo-terra, não faço ideia onde é que a encontraste mas são palavras minhas e é verdade, é mesmo assim.

Fui para Inglaterra com 5 anos, no entanto aos 8 foi o momento em que decidi o que fazer da vida. Portanto, crescer fora de Portugal, a primeira escola ser fora de Portugal, a primeira língua que eu aprendo a sério não ser a minha, mas sendo português e tendo cá a minha família, gerou em mim uma eterna saudade que ainda hoje com 38 anos não se vai embora. É uma eterna saudade, eu estou em Lisboa e sinto-me turista em Lisboa, vinha agora no cacilheiro a tirar fotografias feito turista e um casal atrás de mim comentou “epá, os turistas adoram a nossa terra, já viste?” não sabia ele que eu não sou turista coisa nenhuma, sou português e estou cá e é aqui que eu moro, é aqui que eu passo a maior parte do tempo, mas já mudei de casa 20 vezes, já vivi em não sei quantos países, e isso dá-me aquela vontade imensa de continuar a falar do meu país e divulgar as coisas boas que temos…

Passemos ao relato de uma grande adversidade pela qual o Ricardo passou, quando bateu num contentor, tendo destruído o veleiro que demorara 4 anos a montar, e tendo ficado a nadar em alto mar durante 24 horas…como lidou com a situação?

O barco representava muito coisa. A minha primeira carta para conseguir patrocinadores foi em outubro de 96, o barco demorou um ano a construir mas eu demorei cinco anos a chegar àquele momento em que parti de Lisboa à vela, sozinho, rumo ao Brasil, que era esse o projeto que estava a tentar concretizar. 24 de novembro de 2001, foi quando saí do Tejo. Tinha batalhado muito, tinha passado por muitas dificuldades, tinha abdicado de tudo para concretizar os meus projetos, enquanto que na universidade ia tudo para os copos, e os meus amigos só queriam miúdas e cerveja, eu não tinha tempo nem para uma coisa nem para outra, estava focado nos meus projetos, tão focado que o curso era aquela coisa que me interrompia o dia de trabalho, por isso desisti do curso – foi das primeiras grandes decisões da minha vida.

Quando bati no contentor, perdi isso tudo, senti eu que tinha perdido esses cinco anos de trabalho, que tinha desonrado o investimento dos patrocinadores e o investimento da equipa que construiu o barco. Fiquei muito triste, muito em baixo, não consegui compreender a injustiça…e o que aconteceu em terra foi muito pior do que o que me aconteceu em mar. Estive no mar 26 horas à deriva, a ver o barco destruído, a meter água, já não navegava, e isso foi muito muito duro para mim, mas chegar a terra e não ter barco e não saber o que dizer aos patrocinadores e sentir que algumas pessoas não entendiam o esforço e gozavam e criticavam…custou-me a ultrapassar.

Hoje em dia já conta com quantas milhas navegadas? (Equivalente a…?)

Cerca de 100 000 milhas, é o equivalente a 3 voltas ao mundo. No meio disso já fui daqui a Inglaterra e voltei talvez 30 vezes, já fiz 5 travessias do Atlântico, fiz muitas viagens entre Caraíbas e os EUA…uma série de viagens.

Como é a rotina numa grande viagem? O que é que tem de ir fazendo ao longo do percurso, como entretém os pensamentos, como dorme…? (Terei lido bem quando disse que não dorme mais do que 15 minutos seguidos?)

Leste bem, não dá para dormir mais do que isso. Quanto mais perto de terra estiver, quanto mais rápido o barco estiver, menos eu posso dormir. Tem a ver com as colisões, com os outros navios e embarcações, barcos de pesca, redes, atividades junto à costa…O barco é um instrumento extremamente exigente, imagina uma Marta Pereira da Costa, que é uma jovem portuguesa que toca guitarra portuguesa, ou um António Chainho, mais conhecido e experiente, a tocarem uma guitarra desafinada, não conseguem aguentar aquilo nem dez segundos. Param, afinam, e voltam a tocar. Eu sou igual no barco, sou muito exigente, o barco tem de estar feliz, tem de estar afinado, as velas têm de estar a sentir bem o vento para que o barco vá a navegar da forma mais eficiente possível. Tu a dormires dez minutos muda um bocadinho a intensidade do vento, ou o ângulo do vento, ou aparece um navio, tu não podes permitir que uma destas três coisas aconteça sem a tua intervenção imediata. Quando o barco está bem eu estou bem e tento sempre estar focado no bem-estar geral a bordo, seja meu seja o da gatinha.

(risos) Como é que se chama a gatinha que o acompanha?

A que fez a última viagem comigo chama-se Vitória, e a anterior a essa foi a Soneca Maria (risos). Gosto sempre de levar um animal comigo para o mar. No total durmo cerca de 4 horas em cada 24, todos os dias durante o tempo que for preciso para chegar ao outro lado. É mais fácil do que possas pensar, imagina que vais num comboio, sei que já não andas de transportes públicos desde que tens a carta (risos), mas imagina que vais no comboio, dormes um bocadinho, não acordas quinze minutos depois fresquinha que nem uma alface? Até parece que dormiste uma noite inteira enquanto passaste pelas brasas! Eu faço isto muitas vezes, estou sempre a acordar cheio de energia fresca. Portanto aguento, não tenho outro remédio senão aguentar.

A rotina a bordo, passa muito por navegar, ver a meteorologia, afinar as velas, comunicar com outros navios, atualizar o site e redes sociais, dar entrevistas em direto e por satélite, ou responder a e-mails, gosto muito de ler – leio três livros por semana no mar, não consigo nem isso por ano em terra -, escrevo, canto, adoro música – tenho um leitor de cassetes, do tempo em que nasceste (risos). É tão bom ter vinte anos…e aquela sensação de “depois quando for mais velho vou tratar disso…” esquece, começa já a tratar disso, começa já a bombar, o relógio está sempre a contar, e o tempo passa muito rápido, ataca, ataca já, controla já, agarra já o touro pelos cornos…

(dissertação sobre a palermice que são as touradas, “com todo o respeito pela tradição e pelas famílias”)

E o tempo também passa rápido no mar?

Não, não, nada! No mar, que caraças pá, como eu durmo tão pouco, os dias duram o triplo!

Em terra, quantas vezes é que tu não ouves, “olha, queres ir beber um copo ao pôr-do-sol?”, então e o pôr da lua? “epá, hoje vi o nascer do sol”, então e o nascer da lua?

Eu no mar vejo o sol a pôr e a lua a nascer no horizonte, grande e vermelhona muitas vezes, parece um sol a nascer, depois é que vai ficando mais branquinha quando sobe. Vejo a lua a passar, vejo todas as horas a passar, lentamente. O tempo deixa de ser relevante, passas a usufruir porque tens tempo para parar….

(passa um vendedor ambulante com água fresca para vender, e o Ricardo pergunta-me se quero água, eu digo que não, e ele devolve ao senhor: “se fosse um magnum amêndoas ainda ia!”)

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 preciso da transição do Ricardo-terra que se tem de reencontrar com o Ricardo-mar

Voltemos à dualidade, acha que consegue assim à pressão elaborar uma comparação entre o Ricardo-mar e o Ricardo-terra? A diferença principal não se deverá ao ritmo cada vez mais alucinante que a vida (em terra) leva em contraste com a calma e isolamento sentidos no mar? Já falámos um bocado sobre isto, com os dias que demoram o triplo…

É uma boa pergunta e faz sentido. Deixa-me explicar uma coisa, eu quando vou para o mar, o compromisso necessário, a entrega, os níveis de fé, são os mesmos de há 500 anos atrás, logo o respeito, a humildade e a fé também são os mesmos. E quem me diz que não acredita em nada…eu já vi pessoas com a mania de que não acreditam em nada e quando chegam ao mar até sabem o Pai-Nosso de cor e salteado, no mar rapidamente percebem que estamos aqui todos por alguma razão, e que isto tudo foi criado por alguém e que estamos todos conectados.

Portanto eu quando estou em terra, eu não consigo no meu estado normal, rodeado de ar condicionado, esplanadas, água fresquinha, um gelado no congelador se for preciso, eu não consigo ir para o mar com esta mania de que está tudo bem, de que faço assim (estalar de dedos) e muda a estação de rádio e faço assim (novamente estalar de dedos) e aqueço ou arrefeço o ambiente em que eu estou. No mar, estás disposta ao que o mar te dá, ao que a natureza te dá, está frio, tens frio, está calor, tens calor, tens medo…eu tenho medo sempre, tenho mais ou tenho menos, mas tenho sempre medo, e tenho de saber controlar esse medo. Se tu me pusesses num helicóptero neste momento no meio do mar, sofria muito, eu preciso da adaptação, preciso da transição do Ricardo-terra que se tem de reencontrar com o Ricardo-mar, porque o Ricardo-mar nunca deixa de lá estar. O que eu sinto é que há um gajo no mar neste preciso momento que percebe muito daquilo, e que está muito feliz lá, e eu aqui, eu quero é estar sossegado, na minha pequena quinta, com os meus gatos – tenho dez – com os meus filhos, com a minha família…não tenho televisão há anos, tenho uma telefonia muito antiga, um rádio com mais de cinquenta anos em madeira, acordo ligo logo aquilo de manhã, vou cuidar da minha horta, dos meus legumes…eu quero é estar sossegado. Trabalho a partir de casa, faço reuniões em hotéis e esplanadas, já larguei a loucura de ter uma empresa em Lisboa e de ter um escritório, há cinco anos atrás simplifiquei. Aprendi isso com o mar, há essa ligação, sim.

Mas há claramente um gajo no mar que tem uma capacidade de luta e de superação de coisas muito difíceis que eu não faço ideia como é que ele consegue, e essa pessoa é o Ricardo-mar. Eu em terra, às vezes, principalmente à noite, quando me vou deitar, na minha cama que está quentinha, que não mexe, que não está encharcada de água salgada, e não me estou a sentir nem com medo nem enjoado, nem preocupado, e penso “aquele gajo que anda lá no mar, como é que ele faz aquilo?”. E há um momento doloroso mas essencial que é o momento em que o Ricardo-terra se despede da família, amigos, patrocinadores e imprensa, meto-me naquele barco, ainda como Ricardo-terra, largo as amarras, os barcos que me acompanham na despedida começam a voltar para trás, um a um, há um momento em que é só um, e esse um tem alguma timidez em voltar para trás porque sente algum sentimento de culpa de “bem, quando eu me virar, sou o último ser humano que ele vai ver, e será que eu sou a última pessoa que ele vai ver?”, eu sei que há esse diálogo sem ninguém dizer nada, e o barco voltou para trás, estou sozinho, e passado algumas horas estou 100% sozinho e já não vejo terra, e continuo a ser o Ricardo-terra, desesperadamente à procura do Ricardo-mar, que hoje felizmente encaixa nas primeiras 24 horas, mas chegou a demorar 10 dias, no início, quando eu ainda não percebia muito do assunto, chorava baba e ranho, enjoava que nem uma pescada… desde as idas e vindas de Inglaterra em miúdo, quando lá vivia, com o meu pai lá e a minha mãe cá que eu tenho um big deal brutal com as despedidas, e transportei isso para a minha idade adulta, para as despedidas de quando vou para o mar. Resolvi isso com uma psicóloga de desporto chamada Ana Ramirez, que é uma máquina e uma pessoa muito importante na minha vida.

Pode agora falar um pouco sobre os projetos paralelos às suas viagens? Temos o “Made in Portugal” e uma empresa de consultoria de imagem, a “Delfinus”, correto? Para além disso, o Ricardo é Co-Fundador e Presidente do Portugal Ocean Race e ainda Embaixador Europeu para os Oceanos, nomeado pela Comissão Europeia.

Como te disse há pouco comecei a trabalhar muito cedo, por gosto, por identificar oportunidades e não por necessidade. Felizmente nunca me faltou nada, embora tenhamos simplificado muito em certas fases. Dou-te um exemplo concreto, passava férias em Vilamoura, e enquanto os meus amigos queriam praia e gelados na marina e discotecas, eu não tinha muita pachorra para isso, via que os carros do aldeamento estavam sujos por causa da poeira, e com a mangueira que se usava para a rega dos jardins, com o Sonasol lá de casa e com a esfregona ia lavar os carros. Eu cheguei ao ponto de ter tantos carros para lavar no aldeamento, que comecei a contratar os filhos dos donos dos carros para lavarem os carros aos próprios pais mas era eu que lhes pagava com o dinheiro que os pais me davam a mim. Isto parece parvo mas os putos ficavam todos felizes. E eu fazia isto com 15/16 anos, sempre quis rentabilizar o tempo e ser útil.

O conceito do Made In Portugal nasceu, promover produtos feitos em Portugal, e com o objetivo de construir barcos em Portugal e dinamizar a indústria náutica e os estaleiros. Isso evoluiu, hoje em dia tenho uma empresa que se chama Papillon, que faz a gestão e a manutenção de barcos, nomeadamente super-iates.

Eu sem querer criei uma agência de comunicação, e believe it or not, tive essa empresa 14 anos. Os meus projetos enquanto navegador solitário no fundo funcionaram como uma incubadora para jovens talentos, fotógrafos, programadores, designers…todos eles estavam a servir os meus projetos, fazíamos sites e logótipos para os meus projetos, até que eu percebi que para aquele modelo de negócio fazia sentido termos mais clientes: se éramos tão bons com os meus projetos, então podíamos ter outras coisas, e começámos a fazer sites e logótipos para os nossos patrocinadores, e crescemos, até ter clientes em várias partes do planeta. Foi um projeto muito giro, muito inesperado, que justificou ter um escritório no Saldanha, mas que mais tarde vendi.

Faço palestras, tenho o meu livro, faço workshops de formação e essencialmente continuo a trabalhar para ajudar pessoas e empresas a atingir objetivos. Sou empreendedor, navegador solitário, autor, coach. Enquanto coach, tive também de simplificar, há dois, três anos cheguei a trabalhar com mais de 400 pessoas a nível mundial, neste momento tenho cerca de 100 pessoas em tratamento on-going, sendo que o contacto regular quase diário é quase com 30. Eu não tenho formação enquanto coach, sou um “accidental life coach” como costumo dizer.

Em relação à Política do Mar, temos das maiores Zonas Económicas Exclusivas da Europa, concorda que Portugal está finalmente a tirar partido da sua localização e geografia estratégicas e se está a voltar novamente para o mar? Que medidas aconselha para acelerar este processo de reconciliação com o Mar?

Eu acho… que já posso morrer tranquilo. Ou seja, se eu agora cair para o lado, já morro em paz, porque este sentimento de missão que eu tenho que me leva a ir para o mar, tem sido precisamente para que Portugal esteja como já está. Em 98 tivemos um kick off com a Expo, a coisa abrandou um bocadinho, mas de repente começa a surgir uma nova geração, que inspira os mais velhos, que exige aos mais velhos, e nos mais velhos surgem pessoas como o Tiago Pitta e Cunha, advisor do Governo, entre muitas outras pessoas que já conseguem trabalhar em equipa para que isto tudo comece a funcionar, e começo a ver exemplos em vários níveis, nomeadamente a capa da última Exame é dedicada ao mar, a negócios do mar, e quem está de facto a puxar pelo mar. Há muito trabalho a fazer, os estaleiros de Portugal não são conhecidos no mundo como deveriam ser, a pesca em Portugal ainda não está como deveria voltar a estar e melhor, mas estamos no bom caminho. O surf é cool, é um negócio, é patrocinável por grandes marcas multinacionais. Está tudo a aquecer, estamos no bom caminho, e acho que todos temos feito por isso, eu contribuí com pequenas gotas no oceano. Quando circunnaveguei a ZEE de Portugal – foi a expedição Mare Nostrum – foi a realização de um sonho, demorei 8 anos a concretizá-lo, mas demorei 8 anos porque eu tinha os norugueses a quererem-me patrocinar, tinha os belgas também, os ingleses, os japoneses, e eu disse não, não, não, este projeto tem de ser português, com empresas portuguesas e de preferência com um barco meu e português. Esperei mas quando arranquei do Tejo arranquei com um barco meu, português, que deu trabalho a 312 pessoas e demorou 100 dias a remodelar, tive 24 dias sozinho no mar, sempre o mais fiel possível em cima da linha da ZEE e concretizámos um projeto que nunca tinha sido feito, nunca ninguém à vela circunnavegou ZEE nenhuma, muito menos a portuguesa, e foi para mostrar que Portugal é mar, e tu hoje vês em todas as escolas do país um mapa lindíssimo a dizer que Portugal também é mar, e que mostra aos miúdos que Portugal não é um retângulo vertical, mas é um retângulo vertical mais ilhas mais uma mancha imensa que é mar que pertence a Portugal e que tem de ser trabalhado e que vai ser um dos grandes contribuidores para o PIB português. Deixa-me com imenso orgulho ver que estamos todos a puxar pelo mesmo e que isto vai lá, estamos no muito bom caminho, felizmente, finalmente.

Por fim, para quando uma volta ao mundo? Sei que está nos seus planos.

Olha volta ao mundo foi um desejo que eu tive com oito anos, e a vontade e o desejo que eu tive de a fazer foi algo tão grande que ainda hoje o sonho comanda a vida. Tudo o que atingi e as decisões que tomei na minha vida foram por causa da volta ao mundo, que curiosamente ainda não fiz. Hoje em dia não tenho essa pressa, não tenho essa imensa vontade que faz o meu mundo andar para a frente. Mas uma coisa te posso dizer, se um dia fizer a volta ao mundo, será muito ligada às comunidades portuguesas, muito ligada a algo que tenha a ver com a promoção das nossas empresas e da nossa cultura, terá a ver com Portugal no mundo e unir quem fala português, reforçando que Portugal tem uma diáspora fabulosa, temos 5.5 milhões de portugueses  a viver fora de Portugal, e temos muito a fazer com isso, temos de reforçar os laços com Angola, Moçambique, Guiné, S. Tomé, Brasil, Macau, Goa… Eu hoje em dia não vou por pressas nem calendários, vou por feelings, e amanhã de manhã se acordar com o feeling que é agora que eu tenho de fazer a volta ao mundo, amanhã de manhã começo a trabalhar nessa expedição para fazer a volta ao mundo, e não vai ser nem num ano nem dois, vai ser em pelo menos quatro. Mas as minhas prioridades neste momento são outras, tenho filhos, tenho outros projetos que quero atingir em terra. Quando tiver de fazer, se tiver de fazer, será.

Agora tiramos uma selfie?

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Fotos: DR

Hostel no Estoril no top 10 dos mais elegantes na Europa

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Segundo o jornal britânico The Guardian, o hostel Blue Boutique Hostel&Suites no Estoril entra na lista dos 10 hostels mais elegantes da Europa.

Com cerca de um ano de existência, o hostel azul situado na famosa Marginal da linha de Cascais já foi várias vezes elogiado e reconhecido internacionalmente, e esta semana foi rotulado pela sua elegância, quer devido à privilegiada localização e vista sobre o Atlântico, quer devido à arquitetura e decoração artísticas que transformaram esta antiga mansão senhorial num espaço moderno, sem perder o charme dos anos, apenas renovando-o.

O edifício tem cinco andares, pelos quais se distribuem as áreas sociais, os dormitórios, os quartos individuais ou familiares e as suítes, havendo uma clara diferença de preços, mas sem qualquer descuido na qualidade das instalações.

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O leque de atividades oferecido aos hóspedes procura dar a conhecer o melhor que a zona tem para oferecer: uma variedade imensa de desportos aquáticos mas também tours pela Serra de Sintra e arredores.

O Blue Boutique Hostel&Suites surge do empreendedorismo de três sócios, Juan Matias, Miguel Lino e Bernardo Amaral. Todos praticantes de desportos aquáticos e residentes na zona, que apresenta cada vez mais potencial, para além de que os hostels estão cada vez mais na moda, sendo um modelo de negócio atrativo e que tem vindo a perder a fama de pouco convidativo. Em Portugal podemos encontrar inúmeros hostels fabulosos, e que constituem uma excelente alternativa para o setor mais jovem, por exemplo.

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Para além do hostel português também fazem parte da lista o Generator hostels em Paris, o WellnessHostel 4000 na Suiça, o Slo-living em Lyon, o Backstay Hostel Ghent na Bélgica, o Basecamp Bonn na Alemanha, o The Hat em Madrid, o Ecomama em Amesterdão, o Wombat”s em Londres e o Loft na Islândia.

Fotos: DR

Grande descoberta científica portuguesa: Galáxia CR7

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Uma equipa internacional de astrónomos liderada por David Sobral descobriu esta semana aquela que é a galáxia mais luminosa alguma vez encontrada no Universo primordial, e encontrou ainda, pela primeira vez, fortes indícios da existência da primeira geração de estrelas.

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David Sobral, líder da equipa de investigadores responsável pela descoberta

A  recém-descoberta galáxia foi batizada com a sigla CR7,  uma abreviatura para Cosmos (zona do céu onde a galáxia foi detetada) Redlight 7 (desvio para o vermelho). Quanto maior o desvio para o vermelho de uma galáxia, mais distante e mais para trás no tempo ela está. A CR7 encontra-se a cerca de 13 mil milhões de anos luz da Terra e é três vezes mais brilhante do que o antigo recorde, a Himiko, e só no campo da luz visível, chega a ser um trilião de vezes mais luminosa do que o Sol. O nome é também uma alusão à ‘estrela’ do futebol português, Cristiano Ronaldo.

David Sobral (IA e FCUL) comenta: “Decidimos seguir um caminho totalmente diferente do resto do Mundo, e fizemos um mapeamento de grandes áreas do céu. Sabíamos que o risco de procurar onde ninguém procura era facilmente compensado por descobertas inesperadas, algo importantíssimo em Ciência. Foi fantástico quando descobrimos a galáxia CR7, a mais luminosa alguma vez encontrada no Universo primitivo.”

A equipa descobriu então várias galáxias, a mais surpreendente sem dúvida a CR7, mas novas observações acabaram inesperadamente por levar a indícios de algo ainda maior.

“Ao juntarmos as diferentes peças do puzzle percebemos que tínhamos encontrado algo muito mais profundo e que estávamos a ver, pela primeira vez, um Santo Graal da astronomia – as primeiras estrelas. Foram essas estrelas que permitiram a nossa existência. Depois de inúmeras observações e imenso trabalho, com um método diferente e planeado por nós, é fabuloso obter estes resultados tão importantes”, afirma David Sobral.

Há muito que os astrónomos previram a existência de uma primeira geração de estrelas formadas a partir do material primordial do Big Bang, mas até esta semana essas previsões eram meramente teóricas. Estas primeiras estrelas, denominadas População III, criaram os primeiros elementos necessários para formar estrelas como o Sol e para que possamos existir, e pela primeira vez, “podemos começar a estudá-las no Universo real”.

Impressão artística da CR7

Impressão artística da CR7

Sérgio Santos (IA e FCUL), coautor da descoberta comenta: “Foi fantástico poder participar numa descoberta com esta relevância durante o meu projeto de investigação ainda como estudante de licenciatura! É um privilégio poder trabalhar com uma equipa de tão grande qualidade e quero destacar o nível da investigação científica que se faz hoje em dia em Portugal, capaz de rivalizar com qualquer outro país.”

A equipa é formada por David Sobral (IA, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Observatório de Leiden), Jorryt Matthee (Observatório de Leiden), Sérgio Santos (IA, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e investigadores das Universidades da Califórnia, Genebra e Leiden.

O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation.

Os resultados serão apresentados no artigo Evidence for PopIII-like stellar populations in the most luminous Lyman-αemitters at the epoch of re-ionisation: spectroscopic confirmation (Sobral et al. 2015), na conceituada revista Astrophysical Journal.

 

Fotos:DR

 

O surf português está imparável! Vice-campeões mundiais

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Dia 7 de junho escreveu-se mais uma página na história do surf português: a seleção nacional sagrou-se vice-campeã mundial no ISA World Surfing Games. Nicolau Von Rupp foi o atleta português que chegou mais longe na competição, tendo obtido a medalha de prata na prova principal.

O World Surfing Games, Campeonato Mundial organizado pela Federação Internacional de Surf, decorreu na semana passada, entre 31 de maio e 7 de junho, na Nicarágua. É um evento no qual os atletas competem individualmente pelo título e coletivamente pela distinção da sua Seleção. Em competição estiveram 27 seleções de todo o mundo e 132 atletas, masculinos e femininos.

No pódio, encontramos a Costa Rica como campeã mundial, seguida de Portugal e em terceiro lugar os Estados Unidos. Dado que o objetivo apontado inicialmente para a nossa seleção seria o top 5 por equipas, esta medalha de prata foi uma superação de aspirações.

Nas redes sociais a Federação Portuguesa de Surf escreveu “Estiveram todos brilhantes. Este homem foi ENORME”. Este elogio dirige-se a Nicolau Von Rupp, o surfista da Praia Grande, que foi o único português que conseguiu manter-se do início ao fim na prova principal, tendo demonstrado uma consistência no seu desempenho absolutamente fantástica.

Também a jovem surfista de Cascais, Teresa Bonvalot, se distinguiu nesta competição, alcançando o 9º lugar e confirmando o seu potencial. Vasco Ribeiro e Miguel Blanco posicionaram-se ambos em 13º lugar, enquanto José Ferreira e Camilla Kemp ficaram em 25º lugar.

Quem está também de parabéns é David Raimundo, Selecionador Nacional de Surf, que acampanhou os atletas nesta prova.

João Aranha, Presidente da Federação Portuguesa de Surf, nota que “conseguimos cumprir os nossos objetivos e somos vice-campeões do mundo em Surf! Trata-se de um retorno muito positivo para o investimento na nossa Seleção e espero que esta distinção, que reforça a posição de Portugal como potência mundial de Surf, abra portas a fundos para competirmos em mais provas internacionais, dando a oportunidade aos atletas de outras modalidades de trazerem mais troféus para Portugal.”

Sem dúvida um resultado histórico para a modalidade do surf em Portugal.

 

Foto: DR

Entrevista a Sandra Correia, CEO da Pelcor

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A Pelcor é uma prestigiada marca portuguesa de produtos de moda de pele de cortiça. Sandra Correia, CEO e fundadora da Pelcor, conta-nos em entrevista o seu percurso, como venceu numa indústria masculina, como foi que alcançou o reconhecimento internacional que a Pelcor detém atualmente e quais os seus objetivos para o futuro. Prémio Mulher Mais Empreendedora da Europa em 2011, Sandra foca também temas como o papel das mulheres no mundo empresarial.

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Boa tarde Sandra, em primeiro lugar queria-lhe agradecer a sua disponibilidade para esta entrevista, acredito que a sua agenda seja muitíssimo preenchida, mas de facto quando surgiu a oportunidade de me encontrar consigo e após uma breve pesquisa sobre o seu historial não tive quaisquer dúvidas sobre o quanto posso aprender consigo, enquanto futura gestora (penso eu) mas mais abrangente ainda enquanto mulher que quer uma carreira interessante e se possível internacional e com impacto nacional, três requisitos que a Pelcor trouxe sem dúvida alguma ao seu percurso.

Se calhar antes de passarmos à Pelcor, a marca que a Sandra fundou e que tem alcançado um sucesso enorme, começamos por falar sobre si. A Sandra foi criada no mundo da cortiça e estudou Comunicação Empresarial na universidade, sempre soube que o seu caminho estava na inovação e expansão do seu negócio de família?

Não (risos). Eu quando era jovem queria ser jornalista, aliás era um sonho que tinha e por isso mesmo fui estudar Comunicação Empresarial, ou seja, publicidade, marketing, jornalismo e relações públicas, porque sempre gostei muito de comunicação e depois via os apresentadores na televisão e via repórteres na rua a fazer reportagens e… era o meu sonho, pronto, só que conforme fui fazendo os anos da faculdade comecei a aperceber-me de que afinal não era bem aquilo que eu queria, queria sim trabalhar mais na área do marketing. E foi realmente aí que eu percebi que o Marketing era a minha grande paixão. O que é que acontece, quando eu terminei a faculdade ainda trabalhei em Lisboa a vender seguros, mas eu queria pôr em prática aquilo que tinha aprendido. E então o meu pai fez-me um convite: porque é que eu não ia fazer uma experiência na fábrica e lá trabalhar durante um tempo? Foi um desafio que aceitei, como muitos outros que tenho na minha vida, e voltei para o Algarve e fui trabalhar na fábrica. E fui implementar tudo aquilo que eu tinha aprendido: boletins de comunicação interna, estabelecer a comunicação entre as pessoas, criar a newsletter da companhia… Paralelamente, ao mesmo tempo, ia para as máquinas dos trabalhadores e aprendia com eles a trabalhar a cortiça, como é que a máquina trabalhava, como é que a cortiça é antes de entrar e como é que fica depois de transformada, e como eu cresci no mundo da cortiça, comecei a sentir a cortiça como uma paixão. E pronto, a partir daí o namoro deu em casamento!

“(…) e como eu cresci no mundo da cortiça, comecei a sentir a cortiça como uma paixão. E pronto, a partir daí o namoro deu em casamento!”

Por acaso estava à espera que fosse um sim! Mas é mais interessante um não. Continuando, a Pelcor surgiu em 2003, após um período difícil vivido na Nova Cortiça e inclusivamente de excesso de matéria-prima, correto? Mas de onde lhe veio o conceito do famoso guarda-chuva em pele de cortiça?

Há vinte anos que eu trabalho nesta área, e durante dez anos, mais ou menos, fui passando estas fases todas de produção e desenvolvimento, e no fundo já dominava as áreas todas da fábrica e da empresa. Mas o mundo da cortiça é um mundo masculino, é uma indústria masculina, e como eu era uma mulher jovem, com 28/29 anos, numa indústria onde a média de idades são 50/60 anos e homens, sentia-me um bocado um “peixe fora d’água”, e tive que encontrar uma forma de me sentir melhor nesse mundo, então na altura associei-me à Associação Portuguesa das Mulheres Empresárias e fui fazer uma feira em Almeria. Por ser uma indústria masculina, tive que me impôr e impôr o meu estilo. E graças a Deus, não senti desigualdade de género. Talvez ser mulher e ser jovem fosse uma deficiência, mas também era algo a meu favor…

Diferenciador…

Exato, os homens mais velhos achavam graça, então deixavam! Deixavam eu aparecer, eu negociar, deixavam eu crescer, no fundo. Pronto, isto só para fazer aqui o meio ambiente. Quando nós tivemos em 2000 essa altura menos boa, que eu chamo de época de criatividade ou oportunidades, tivemos um excedente de matéria-prima. Eu na altura já conhecia alguns produtos em cortiça, carteiras sobretudo, umas coisas muito feias, muito artesanais. E como tínhamos cortiça a mais, porque não fazer algo diferente e mais feminino? Então, como ia estar a representar a Nova Cortiça nessa feira, pensei: vou levar o primeiro objeto que eu fizer – e o primeiro objeto foi o guarda-chuva. Porquê o guarda-chuva? Porque era um produto diferente, um produto diferenciador, também porque o fabricante dos guarda-chuvas estava perto, no Algarve, e eram pessoas que eu conhecia. E ao mostrar na feira o guarda-chuva, a apetência das pessoas foi de tal forma tão grande e…”uau”, que eu disse “pronto, aqui está, a partir daqui vou criar uma linha de acessórios de moda”, e assim nasceu a Pelcor.

A gama de produtos da Pelcor não se pode adjetivar com preços baixos, foi claro para a Sandra desde o início que a aposta seria na qualidade e que o preço se iria rever nessa alta qualidade?

Sim, de início, se calhar nos primeiros 5/7 anos, a Pelcor teve de se impôr pela qualidade, pela diferenciação, mas sobretudo teve de se impôr como uma marca que tinha que habituar as pessoas, como é que eu hei-de dizer isto…o papel da Pelcor no fundo foi abrir um novo nicho de mercado, em Portugal e lá fora, mas também entrar na cultura das pessoas e abrir um leque, uma visão nova, um novo conhecimento para as pessoas. Ou seja, as pessoas estavam habituadas a ver cortiça em rolhas, em pavimentos, mas nunca tinham pensado em cortiça como moda, e isso requeriu um grande trabalho da marca e de qualidade do produto. Quando se trabalha uma marca assim, quando se abre um setor, uma área nova, o produto nunca pode ser barato. Porquê? Porque requer estudo, requer todo o marketing à volta, requer design… Hoje, somos uma marca de moda, uma marca premium, onde realmente investimos bastante no design – temos uma diretora criativa que é a Eduarda Abbondanza, da Moda Lisboa, que nos dá toda uma visão e linguagem às coleções.

Portanto, para além de todos os custos envolvidos, apesar de a cortiça ser um material conhecidamente português, a Sandra não queria que os produtos se tornassem banais, queria sempre o fator “uau, isto é uma mala de cortiça, como é que eles fizeram?”.

Precisamente, diferenciação. E foi esse o caminho, se a Pelcor foi a primeira no mercado, antes não existia nada do género, hoje temos a Pelcor e todo o resto, que eu chamo de artesanato, que tem outra linguagem, outra marca, e ainda bem que existe porque é para outro um tipo de mercado.

Por exemplo, o que se vê muitas vezes à venda nas estações de serviço.

Sim, isso é artesanato, e foi um nicho que não existia e que graças à Pelcor foi aberto. No fundo, a Pelcor foi a pioneira, ou como eu costumo dizer, a “category one”.

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É verdade, por curiosidade, “Pelcor” é uma amálgama abreviada para “pele de cortiça”, presumo. E não é um nome português difícil de ser pronunciado por estrangeiros, foi já a pensar nisso?

Lá está, nasceu dessa analogia, pele e cortiça. Lá fora é “cork skin”. Não foi a pensar nessa facilidade, aliás se eu soubesse naquela altura o que sei hoje, tinha se calhar utilizado outro nome, se calhar não é o nome ideal, mas é um nome que não é muito usual e que fica nas pessoas, para além de que o nome hoje já ganhou a sua própria identificação e marca.

De modo a dar uma noção do nível de internacionalização da marca aos nossos leitores, pode falar um pouco sobre as conquistas lá fora? Pode-se dizer que o grande salto se deu com o convite do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque)?

Sim sim, foi. O convite em 2010 do MoMA para a Pelcor participar na exposição “Destination Portugal”, em que participaram variadíssimas marcas portuguesas, abriu-nos realmente a porta para a exportação. Mas é preciso um trabalho constante, e a Pelcor só começou a entrar no mercado americano passado dois anos. Ou seja, durante dois anos, se eu já estivesse preparada, com uma estrutura própria para dar seguimento, se calhar tinha entrado logo no mercado americano em 2010. E é isso que eu muitas vezes tento transmitir aos outros empreendedores, apesar de este ser um conhecimento que não vem em lado nenhum, não há nenhuma Bíblia, por mais que uma pessoa estude a vida toda nunca vai aprender como é que se faz, porque cada caso é um caso. E o meu caminho e o da Pelcor tem sido muito abrir portas, é um caminho de cabras como eu costumo dizer, porque à nossa frente não há ninguém. E agora já estou eu própria a criar a minha Bíblia!

Estamos na Europa do Norte, estamos no Japão, na China, na Austrália, nos EUA…e este último é o mercado mais desenvolvido e apetecível, porque o mercado americano gosta muito da marca, gosta muito de todo o tipo de produtos que são eco-friendly. E agora o grande desafio é potenciar a Pelcor como uma marca premium lá. Porque eu também não quero a Pelcor nos EUA apenas em lojas online que vendem tudo e mais alguma coisa, o objetivo é que a Pelcor esteja implementada nos Estados Unidos como uma Furla, uma Longchamp, uma Coach, e é para isso que estamos a trabalhar.

Quais os próximos mercados-alvo? Eu ouvi qualquer coisa sobre a América do Sul…

Sim, a América do Sul é o próximo mercado-alvo principal, porque aí temos o Brasil, temos a Argentina, o México, o Perú…e podemos ir através dos EUA.

Acontecimentos como a Madonna ser uma compradora das malas de cortiça da Pelcor, ou como a encomenda de 1500 individuais Tablemats feita por uma princesa da Arábia Saudita, ou como os desfiles na Paris Fashion Week, enchem-lhe as medidas? Deve estar muito orgulhosa de toda a sua equipa.

Sim, eu estou orgulhosa de tudo aquilo que a Pelcor tem feito. Passa muito pela resiliência, por não ter medo, concretizar, e pela equipa acreditar na minha visão, que só é possível através de uma forte comunicação interna, algo que eu prezo muito.

A Sandra já recebeu vários prémios, mas o que salta de facto à vista (até agora!) é a distinção pela parte do Parlamento Europeu como Melhor Empreendedora da Europa em 2011, seguida de outro prémio de inovação recebido em Londres, no Pure International Fashion Show. A minha pergunta é a seguinte: a Sandra acha que uma empresária deve ter consciência das dificuldades acrescidas que enfrenta por ser mulher ou deve mentalizar-se de que as oportunidades são iguais para os dois sexos e que está a competir ao mesmo nível?

Estão a competir ao mesmo nível, o facto de ser mulher ou ser homem não impede nada. O que existe está na cabeça das pessoas. Homem e mulher são iguais no sentido em que nem um vende Marte nem outro vende Vénus, vimos do mesmo mundo e vamos os dois para o mesmo mundo. O que acontece é que os homens têm características que são opositoras às características das mulheres, nem é bom ter só homens, nem é bom ter só mulheres, o ideal é a junção das duas características. As mulheres hoje têm de competir, tal e qual como os homens competem, num mundo igualitário. E ganha quem tem melhores capacidades, quem consegue capacitar-se da melhor forma, e conseguir competir ao mesmo nível, sem medos.

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Algum truque para as mulheres que hoje em dia se batem com problemas de discriminação nas empresas onde trabalham? Como por exemplo não serem nem consideradas para cargos de chefia.

Isso vai mudar. Neste momento o governo está a negociar sobre o sistema das quotas, porque atualmente temos 18 empresas (se não me engano) cotadas na bolsa e temos menos de 30% de mulheres em cargos de decisão, em conselhos de administração, etc. Esse sistema de quotas foi criado pela Noruega, porque o PM da Noruega achou que as norueguesas tinham tantas capacidades quanto os seus homens, e nos EUA esse sistema de quotas também está em vigor. Então, o que acontece é que as empresas vão ser aconselhadas até 2018 a terem 30% de mulheres no seu conselho de administração. Se até 2018 essa situação não se verificar, então o Governo português considera mesmo a hipótese de tornar obrigatória essa percentagem dentro das empresas.

As mulheres só têm realmente é de quando sentirem discriminação partilharem com as entidades que estão a ser discriminadas, e não calarem-se, porque a discriminação já é um crime, este é o primeiro ponto. O segundo ponto é imporem-se, e nas grandes empresas o sistema das quotas vai realmente levar a uma transformação na sociedade, estou plenamente confiante.

Sim, por enquanto pode ser aconselhado, até obrigatório, mas daqui a pouco tempo vai ser completamente natural, também acho.

Vai, vai, basta ver as estatísticas universitárias e 64% das licenciadas são mulheres, dados de 2014. Nós vamos ter as mulheres em peso no mercado de trabalho, inevitável, e depois isso ainda dá origem a outra coisa muito interessante que é, numa família, independentemente do tipo de família, a mulher é que geralmente tem a tomada de decisão nas compras – o que vai comprar para comer, o que vai comprar de roupas para os filhos… Se uma mulher que tem um cargo usual, ganha imaginemos 50, mas se com o sistema das quotas, as mulheres começarem a ter mais cargos de chefia, se passarem para os conselhos de administração…elas não ganham 50, elas ganham 100. E se vão ganhar mais, vão gastar mais, porque são elas que têm a decisão das compras, e se vão gastar mais a economia no seu todo vai crescer. Portanto, há todo um sistema muito interessante social e pode haver realmente uma mudança social e uma contribuição a nível económico para o país.

Nunca tinha pensado nessa perpetiva, é de facto muitíssimo interessante… Falando agora de outros projetos que a Sandra tem em mãos, após ter sido convidada para um projeto internacional de empreendedorismo promovido por Barack Obama (aliás, a única convidada(o) portuguesa), o New Beginning, decidiu trazer para Portugal a versão portuguesa desse movimento, A New Beginning For Portugal, como está a ser a adesão nacional?

Eu fiz esse programa de três semanas com mais 27 empreendedores do mundo inteiro e quando terminámos esse programa de Business, Innovation and Entrepreneurship, fomos convidados a trazer para o nosso país uma missão: o que aprendemos lá, aplicar cá. E foi isso que eu tentei fazer, convidei as pessoas a partilhar os seus sonhos comigo e com as pessoas no geral e a concretizar esses sonhos e transformá-los em negócios, com a nossa ajuda se necessário. Nós criámos então um sistema que era o Challenge 1 que consistiu em, durante três meses, as pessoas tinham que partilhar um objetivo e três metas de três áreas diferentes em prol desse objetivo, e validá-las: mente, corpo (a pessoa tem de se sentir fisicamente bem com ela própria) e espírito. E correu muito bem, éramos 200 na altura. Neste momento está a ser iniciada a segunda versão, o Challenge 2, e somos 400 membros. Em resumo, estas pessoas estão mais felizes, há marcas que foram criadas do nada, pessoas que já foram falar à televisão não sei quantas vezes, há outras empresas que já estão em fase de internacionalização e tudo. Há sucessos realmente incríveis e o projeto vai terminar dias 17 e 18 de outubro, em Lisboa, no festival ANB, onde vamos trazer empreendedores americanos que vão partilhar a sua experiência, entre outros. Palestras, workshops, concerto… Vai ser muito giro.

Muito interesante terem apostado numa visão holística, não só na parte do business, mas mas na procura de uma vida saudável, equilibrada.

É de facto essencial, para conseguirmos viver neste stress, neste mundo de energias tão grande, temos de ser um ser inteiro.

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Por fim, acha que um dos caminhos para Portugal sair de vez da crise e se livrar da imagem que esta deixou sobre o país lá fora é apostar nas empresas que, tal como a Pelcor, pegam nos recursos naturais de Portugal e se focam na qualidade e inovação e não na produção em massa?

Portugal tem de apostar nos produtos de nicho de mercado. Portugal nunca será um país de produção em massa, porque somos pequeninos e comparativamente não temos essas capacidades. Temos sim de apostar nas nossas PMEs e temos de aprender muito a nível de marketing, como vender bem os nossos produtos, as nossas marcas, e ir lá para fora para internacionalizar, exportar, sempre mantendo as qualidades que Portugal tem.

 

Fotos: DR

EDP é a marca portuguesa mais valiosa

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A consultora Brand Finance divulgou há pouco o raking das 500 marcas mais valiosas do mundo. A única marca portuguesa que consta nesta lista é a EDP – Energia De Portugal. Se alargássemos a escala, veríamos também contempladas no ranking a Galp Energia, o Pingo Doce, o Millenium BCP e a CGD, por esta ordem.

 

A Brand Finance é a melhor consultora de avaliação de marcas e de estratégia, conhecida pela sua independência e transparência. Em fevereiro deste ano divulgou o seu relatório anual “Global 500, 2015” sobre as 500 marcas globais com mais valor. O relatório pode ser consultado na íntegra aqui (http://www.brandfinance.com/images/upload/brand_finance_global_500_2015.pdf).

O top é liderado pela Apple que vale 128,3 mil milhões de dólares, seguida da Samsung a valer 81,7 mil milhões de dólares. Como curiosidade deixo aqui o top 10.

Concentrando-nos em Portugal, a EDP consta em 499º lugar no ranking, tendo descido mais de 20 posições desde o ano passado, mas mantendo uma classificação de AA+ e estando avaliada em 3,146 milhões de dólares (1,3 milhões de euros). A empresa liderada por António Mexia vale mais do dobro da segunda marca portuguesa.

Esta é a Galp Energia. Apesar da queda em Bolsa, fruto da instabilidade dos preços do petróleo, a Galp Energia reforçou o valor financeiro em 2015. A empresa de Carlos Gomes da Silva vale agora 1,501 mil milhões de dólares (1,3 milhões de euros).

A marca de supermercados Pingo Doce do grupo Jerónimo Martins ocupa o 3.º posto. Para tal, muito contribuiu a aposta de Pedro Soares dos Santos numa estratégia de proximidade ao cliente e lançamento de promoções. Vale 807 milhões dólares (708 milhões de euros).

Três anos depois, o banco liderado por Nuno Amado, o Millenium BCP, regressou aos lucros – 70,4 milhões de euros nos primeiros três meses deste ano, depois de prejuízos de 40,7 milhões nos primeiros três meses de 2014. Vale 605 milhões dólares (531,4 milhões de euros).

O banco estatal reduziu o seu valor, sobretudo por causa da venda da Caixa Seguros-Saúde. Com um rating de AA+, a CGD, liderada por José de Matos, está em 53.º lugar na banca mundial. Vale 594 milhões dólares (522 milhões de euros).
Foto: DR

Debate no International Club of Portugal com o Dr. Paulo Portas – “Confiança e Crescimento: um novo ciclo para Portugal”

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Na passada quarta-feira, dia 29 de abril, o Sr. Vice Primeiro-Ministro, Paulo Portas, foi o orador convidado do último Almoço-Debate promovido pelo International Club of Portugal, cuja intervenção ficou subordinada ao tema “Confiança e Crescimento: um novo ciclo para Portugal”.

Acabado de chegar de Nova Iorque, foi no Hotel Hilton de Lisboa que Paulo Portas, Vice Primeiro-Ministro de Portugal, aterrou. Neste Almoço-Debate estavam presentes inúmeros embaixadores dos mais variados países, como a China, os Emirados Árabes Unidos, a Rússia, Cuba, Israel, Finlândia, entre outros, e muitos empresários, administradores e economistas de renome.

Após o almoço, seguiu-se uma palestra de três quartos de hora dirigida por Paulo Portas, que incidiu na importância fulcral da confiança que o país tem de transmitir para o exterior e deu a sua opinião sobre o caminho certo para o crescimento da economia portuguesa, que passa exactamente por esta confiança.

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Temos de estar absolutamente cientes de onde partimos, onde estamos e onde podemos chegar

Foi assim que o Sr. Vice Primeiro-Ministro organizou o seu discurso. Com muita coerência em relação ao que tem vindo a dizer ao longo dos últimos anos, mencionou a posição indesejada, desesperada, em que Portugal se encontrava aquando do resgate da Troika em 2011, posição que devemos por tudo evitar que se repita, pois “é completamente diferente ir de mão estendida aos credores desesperados por dinheiro do que ir ter com eles de cabeça erguida com capacidade de reembolsar tudo com certezas (…). Em situação desesperada não se negoceia nada decentemente”.

Paulo Portas relembra que o governo eleito foi chamado a cumprir um acordo que não tinha negociado, e salientou os resultados alcançados até agora com suporte numérico: “a discussão actual é: este ano vamos crescer 1,5%? 1,6%?…2%?” e “hoje em dia, por cada empresa que morre, nascem duas”. Apesar dos resultados positivos e da inquestionável melhoria que Portugal tem assistido, diga a oposição o que disser, um pouco em jeito de piada o Vice Primeiro Ministro “não aconselha ninguém a governar em situação de emergência”.

Em termos de objectivos em vista para um crescimento sustentável da economia, Paulo Portas mencionou três: a) Criação líquida de emprego b) Moderação fiscal e c) Serviço da dívida. A necessidade de uma curva decrescente do desemprego foi bem frisada e segundo o nosso Vice PM, “a única forma de gerar emprego é atraindo investimento”. Este por sua vez passa pela confiança que transmitimos ao exterior, que por sua vez depende da auto-confiança que sentimos.

E há motivos para esta auto-confiança! Muitos pontos a melhorar, mas sem dúvida que temos um factor de excelência já alcançado – este reside no setor do Turismo.  Portugal oferece “sol, praias, surf, gambling, shopping, fenómenos religiosos, boas vias de acesso…. Que tenhamos a nossa auto-estima bem mais acima, ao lado dos padrões de destino turístico de topo que somos”.

 

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A Excelência Portugal participou, neste almoço-debate, a convite do International Club of Portugal. Este Clube nasceu com o objectivo de se tornar um espaço de comunicação e partilha de informação,  conhecimento, experiências, interesses e ideais, de quem está ou passa por Lisboa, por Portugal.

A cobertura do evento esteve a cargo da Sara Rebordão (na foto com o Presidente do ICP, Dr. Manuel Ramalho).

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Go Youth Conference – um testemunho

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A Excelência Portugal esteve presente no maior evento nacional de empreendedorismo que se realizou no passado fim-de-semana na LX Factory, em Alcântara. Aqui segue o testemunho pessoal de uma das nossas correspondentes.

Sou uma estudante de gestão, assim quando me foi proposto  cobrir o evento nem pensei duas vezes, era a oportunidade perfeita de conciliar este hobby do jornalismo com o bichinho do empreendedorismo que tenho vindo a desenvolver. Já conhecia o evento bastante bem, no semestre passado foi-nos pedido para investigar um “caso de sucesso” da nossa faixa etária e eu cheguei a entrar em contacto com o Tiago Vidal, o fundador da Go Youth Conference. Se estiveres a ler isto, Tiago, não te sintas ofendido, mas na altura e neste fim-de-semana que passou, pareceste-me um rapaz perfeitamente “normal” de acordo com os padrões de hoje em dia (seja a definição destes o que quer que seja), o que torna o choque da absorção da dimensão e da qualidade da organização deste evento ainda maior. Sempre presente, sempre calmo, sem os “tiques” do homem “behind the show”. Foi com 17 anos que o Tiago arrancou com a GYC, é de louvar o cariz pioneiro ao ser capaz de recolher apoios e de fazer grandes gurus da gestão (e não só) acreditarem nele e virem a Portugal.

No final do evento, abordei o Tiago para receber feedback direto do fundador de tudo aquilo, passo a citá-lo: “Na minha opinião, superou as expectativas no geral. O foco foi melhorar a experiência do participante no evento e a produção do mesmo e penso que isso foi conseguido. A nível de conteúdo, as expectativas eram altas mas acho que foi diversificado e no final “worthwhile” para os participantes.” E ainda deixou um comentário sobre a importância do papel da Excelência e semelhantes na divulgação e como fonte de motivação: “Acho importante estes meios de forma a divulgar aquilo que se passa de interessante e diferente em Portugal para além dos mainstream media em que o conteúdo pouco varia.”

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O espaço era e estava decorado de forma espetacular, e as luzes! Não me canso de falar das luzes. Ajudaram a criar uma atmosfera tão envolvente, tão própria para a inspiração, para a sensação de que existem infinitas oportunidades ao virar da esquina! Fica desde já aqui um grande reconhecimento a todos os que estiveram envolvidos na produção e organização. O staff era super animado e prestável, e sem falar da comida e bebida servidas…

Quero muito possibilitar aos meus leitores uma visão global e pessoal do evento, mas não me posso esquecer de ser factícia e organizada. Factos, vamos aos factos, à sucessão dos acontecimentos.

 

Antes da abertura das portas, às onze horas de sábado dia 18 de abril de 2015, estava no armazém que recebeu a GYC, com o meu pass de imprensa. Tive a oportunidade de absorver o ambiente ainda vazio, o que me permitiu tirar umas fotografias bem espetaculares, a modéstia nem tem de estar à parte porque o mérito não foi de todo meu ou da câmara mas sim, frizando pela última vez, prometo, do ambiente que foi criado, ali, naquele armazém. Aproveito para aconselhar uma empresa de multimédia, que tratou do vídeo promocional do evento: The Flying Man. Falei pessoalmente com eles e eles são de facto excecionais, apostam na qualidade e sobressaiem por isso mesmo.

O primeiro orador tratou-se de Miguel Frasquilho, presidente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) que vendeu Portugal de uma maneira muito inteligente. Curioso, no dia anterior tinha assistido na minha universidade a uma conferência do embaixador do Canadá em Portugal, e confesso que as semelhanças sobre os tópicos abordados foram imensas. Gostaria de mencionar quatro factos mencionados: crescimento das exportações, localização estratégica e melhoria do ambiente empresarial – por exemplo, estamos no top 25 mundial no que toca à facilidade em criar uma nova empresa – e uma grande qualidade de vida. Terminar com uma ideia que foi muito martelada ao longo do ciclo de conferências: Portugal está a tornar-se cada vez mais atrativo e tem vindo a melhorar a sua competitividade.

A segunda pessoa a subir ao palco foi uma jovem mulher com imensa garra e estilo: Kathryn Minshew, do The Muse (https://www.themuse.com/). Esta conquistou-nos logo com a sua frontalidade ao admitir que é muito fácil estar ali a falar dos sucessos de cada um, mas no que toca aos falhanços…já não é assim tão fácil e entusiasmante. E assim Kathryn achou por bem partilhar grandes e pequenos erros que foi fazendo na criação da sua start-up. Tenho uma vontade gigante de partilhar cada uma das dicas que apontei em todas as conferências, mas assim a probabilidade de UMA pessoa chegar ao fim do artigo ia diminuir ainda mais. Assim deixo apenas uma frase provocadora e encorajadora à persistência da autoria desta empreendedora americana, no original: “Start-ups are an evolution from suck to suck less”.

De seguida foi a vez de um contador de histórias: Burt Helm, da revista Inc. Maganize. Foi absolutamente hilariante. Basicamente o desafio dele foi deixar-nos três dicas para saber contar uma boa história, vou tentar reproduzi-las:

– No início: começar com uma complicação, assim tem-los “fisgados” (hooked, no original).

– No meio: queremos manter a atenção, dica de causa-efeito do South Park, “therefore and but” – pode ser a história mais estúpida do mundo, mas nós caímos.

– No fim: se o fim não prestar, aqueles que perderam tempo a ler/ouvir até ao fim vão-se sentir traídos. Um bom climax, uma boa transformação, tem de acontecer!

Em quarto lugar, subiu ao palco Jeremy Johnson, da start-up Andela, que propõe um modelo de educação baseado nas capacidades de cada um, completamente diferente dos implementados até agora. Trata-se de um conceito complexo que vale a pena pesquisar. No dia a seguir tive a oportunidade de falar com o Jeremy pessoalmente, queria imenso fazer-lhe uma pergunta, e ele foi super acessível e prestável, e fez uma coisa que eu aprecio imenso: deu de facto a sua opinião, não teve medo de se esconder no politicamente correto. A premissa que o levou a criar a Andela foi a seguinte: “Talent is evenly distributed but opportunity is not”.

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O primeiro empreendedor português a pegar no microfone foi o Miguel Pina Martins, da marca de brinquedos didática, Science4You. Mas não seria o último.

Depois houve a oportunidade de assistir a uma conversa entre VC’s (Venture Capitalists) – investidores em start-ups: Alexandre Barbosa (Faber), Martin Mignot (Index), Ciaran O’Leary (Earlybird) e Hussein Kanji (Hoxton). Ciaran comentou que nunca se deve desperdiçar uma boa crise, e Portugal não deixou. O francês Martin Mignot mencinou dois grandes ativos da economia empreendedora portuguesa: as pessoas falam inglês (“mas falam mesmo!”) e o grande sentido de beleza e design que existe em todo o lado.

 

Durante o resto do dia, os oradores foram Morten Primdahl (Zendesk), João Oliveira Martins (Pathena), Pedro Queirós (Ericsson), Miguel Santo Amaro (Uniplaces) e Or Abel (YO). Queria só destacar aqui o Miguel Santo Amaro, dado que estou bastante familiarizada com o sucesso da Uniplaces, que é um grande exemplo de empreendedorismo a funcionar a todo o gás em Lisboa. Tive a oportunidade de visitar os escritórios da sede aqui na capital no outro dia e aquilo sim, aquilo é o sonho de qualquer jovem empreendedor. Noutro artigo escreverei mais sobre eles.

Chegámos a domingo, dia 19 de abril de 2015. A abertura foi feita com outra jovem mulher cheia de energia, Brittany Laughlin, da Union Square Ventures, que já esteve do lado de quem arrisca a pele (empreendedores) e agora está do lado de quem arrisca mas ao financiar e aconselhar. Apelou à ação: “The best way to get started is to get started”.

Seguiu-se uma conversa animada entre três portugueses: Jaime Jorge (Codacy), Filipa Neto (Chic By Choice) e Vasco Pedro (Unbabel). Muitos tópicos foram abordados, um deles foi o porquê da escolha de manter as empresas em Portugal. São várias as razões, mas sejam estas quais forem é um sinal positivo! O nosso fundador da Excelência, Miguel Marote Henriques, teve a oportunidade de trocar impressões com a Filipa sobre o mercado de produtos de luxo, o sucesso crescente da Farfetch, o modelo de negócio da Chic By Choice, os players e as novas tendências de negócio e a necessidade de uma rápida adaptação às mesmas. Uma possível entrevista particular à Filipa está à vista.

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Após esta reunião de portugueses bem sucedidos (sempre em inglês, claro está, já que se trata de um evento internacional que recebe imensos visitantes estrangeiros), veio a vez de Adam D’Augelli, da True Ventures, que nos pôs a todos depé a mexer os braços de um lado para o outro ao mesmo tempo. A originalidade assume muitas formas.

Posteriormente marcaram presença Matt O’Brimer, da General Assembly, Thom Cummings, da Soundcloud, e por fim, para encerrar um grande ciclo, Ray Chang, co-fundador do gigante de entretenimento – 9gag. Este último, num inglês perfeitamente compreensível mas com forte sotaque chinês, procurou dar uns conselhos úteis sem nunca esquecer o bom humor que a plataforma procura providenciar. Mais uma vez houve um apelo à ação: “Don’t be an idea person. Be a follow through person”. O principal, por mais estranho que pareça e que pareceu no início, foi “MAKE YOUR BED”. Fica a dica, interpretem-na e ponham-na em prática, queridos leitores resistentes!

 

fotos: DR