Grande descoberta científica portuguesa: Galáxia CR7

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Uma equipa internacional de astrónomos liderada por David Sobral descobriu esta semana aquela que é a galáxia mais luminosa alguma vez encontrada no Universo primordial, e encontrou ainda, pela primeira vez, fortes indícios da existência da primeira geração de estrelas.

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David Sobral, líder da equipa de investigadores responsável pela descoberta

A  recém-descoberta galáxia foi batizada com a sigla CR7,  uma abreviatura para Cosmos (zona do céu onde a galáxia foi detetada) Redlight 7 (desvio para o vermelho). Quanto maior o desvio para o vermelho de uma galáxia, mais distante e mais para trás no tempo ela está. A CR7 encontra-se a cerca de 13 mil milhões de anos luz da Terra e é três vezes mais brilhante do que o antigo recorde, a Himiko, e só no campo da luz visível, chega a ser um trilião de vezes mais luminosa do que o Sol. O nome é também uma alusão à ‘estrela’ do futebol português, Cristiano Ronaldo.

David Sobral (IA e FCUL) comenta: “Decidimos seguir um caminho totalmente diferente do resto do Mundo, e fizemos um mapeamento de grandes áreas do céu. Sabíamos que o risco de procurar onde ninguém procura era facilmente compensado por descobertas inesperadas, algo importantíssimo em Ciência. Foi fantástico quando descobrimos a galáxia CR7, a mais luminosa alguma vez encontrada no Universo primitivo.”

A equipa descobriu então várias galáxias, a mais surpreendente sem dúvida a CR7, mas novas observações acabaram inesperadamente por levar a indícios de algo ainda maior.

“Ao juntarmos as diferentes peças do puzzle percebemos que tínhamos encontrado algo muito mais profundo e que estávamos a ver, pela primeira vez, um Santo Graal da astronomia – as primeiras estrelas. Foram essas estrelas que permitiram a nossa existência. Depois de inúmeras observações e imenso trabalho, com um método diferente e planeado por nós, é fabuloso obter estes resultados tão importantes”, afirma David Sobral.

Há muito que os astrónomos previram a existência de uma primeira geração de estrelas formadas a partir do material primordial do Big Bang, mas até esta semana essas previsões eram meramente teóricas. Estas primeiras estrelas, denominadas População III, criaram os primeiros elementos necessários para formar estrelas como o Sol e para que possamos existir, e pela primeira vez, “podemos começar a estudá-las no Universo real”.

Impressão artística da CR7

Impressão artística da CR7

Sérgio Santos (IA e FCUL), coautor da descoberta comenta: “Foi fantástico poder participar numa descoberta com esta relevância durante o meu projeto de investigação ainda como estudante de licenciatura! É um privilégio poder trabalhar com uma equipa de tão grande qualidade e quero destacar o nível da investigação científica que se faz hoje em dia em Portugal, capaz de rivalizar com qualquer outro país.”

A equipa é formada por David Sobral (IA, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Observatório de Leiden), Jorryt Matthee (Observatório de Leiden), Sérgio Santos (IA, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e investigadores das Universidades da Califórnia, Genebra e Leiden.

O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation.

Os resultados serão apresentados no artigo Evidence for PopIII-like stellar populations in the most luminous Lyman-αemitters at the epoch of re-ionisation: spectroscopic confirmation (Sobral et al. 2015), na conceituada revista Astrophysical Journal.

 

Fotos:DR