Jovem investigadora da U.Porto premiada pela AllTech

RitaAzeredo4Rita Azeredo nasceu a 6 de Janeiro de 1989 e transporta consigo carismáticos genes nortenhos aliados a uma paixão pelo azul, a cor que a une ao mar e ao futebol.

Aos 26 anos, Rita Azeredo é estudante do doutoramento em Biologia  da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), a desenvolver investigação no Centro Indisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) (laboratório NUTRIMU), e antiga estudante do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

A investigadora do CIIMAR venceu o 1.º prémio AllTech Young Scientist Awards na categoria regional Europa/África/Rússia para estudantes graduados e está entre os 8 investigadores de todo o mundo que vão disputar o prémio final.

A Excelência Portugal quis saber mais. E o que encontrámos?
Uma investigadora que aparece de mota e que em nada se assemelha ao estereótipo do habitante de um laboratório. A partir daqui, estavam criadas todas as condições para uma entrevista ainda mais interessante.

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 Desde criança que me encanto com a Natureza, com a complexidade dos organismos e com os recursos que o Homem pode explorar
- Quando tomaste consciência que a ciência seria o teu caminho?
Acho que nunca considerei outra opção. Desde criança que me encanto com a Natureza, com a complexidade dos organismos e com os recursos que o Homem pode explorar. A vida que o mar esconde é imensa, distante e sempre atraiu a minha atenção de uma forma especial. A licenciatura em Ciências do Meio Aquático no ICBAS acabou por ser o impulso forte que me deu a certeza de querer continuar a estudar a vida marinha. Sendo a aquacultura uma actividade emergente que junta a biologia marinha e a indústria vi nela a oportunidade ideal para crescer profissionalmente.
 
- Como vês Portugal no teu campo de investigação?  Dada a nossa situação geográfica, a nossa Zona Económica Exclusiva e as pretensões de extensão da nossa plataforma continental, estamos a fazer o suficiente?
Não há dúvida que Portugal reúne condições únicas para a implementação e desenvolvimento de aquaculturas. Temos uma orla costeira enorme e água com excelente qualidade, com influência das águas do Mediterrâneo e do Atlãntico. A extensão da nossa ZEE não é de todo limitante para esta indústria. Os entraves são de outras naturezas. Infelizmente, dada a complexidade dos processos para o arranque de uma empresa que tanto caracterizam o nosso país e a grande competitividade com Países vizinhos tais como a Espanha, Grécia e Itália, o sucesso de uma aquacultura em Portugal dificilmente é garantido. Por outro lado, existem diversos grupos de investigação de Norte a Sul que se focam nesta temática e que colaboram directamente com as aquaculturas existentes dando o apoio e o feedback essenciais para a sustentabilidade dessas empresas. Assim, julgo que o que é necessário é simplificar processos de licenciamento, subsidiar e apoiar de diversas formas o desenvolvimento desta actividade que poderia contribuir significativamente para o crescimento económico do nosso Pais, à semelhança de outros tais como a Noruega ou a Escócia.
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Acho que fomos grandes nos padrões dos séculos XV a XVII mas podemos também ser maiores do que somos na actualidade se soubermos tirar partido da nossa situação assim como os nossos antepassados souberam fazer há umas centenas de anos
- Concordas que sempre que Portugal se virou para o mar prosperou e que o nosso futuro passa por ele?
Sem dúvida! Não há dúvidas de que a nossa situação geográfica nos lançou ao mar, nos fez chegar tão longe e nos fez crescer em dimensões imperiais. Acho que fomos grandes nos padrões dos séculos XV a XVII mas podemos também ser maiores do que somos na actualidade se soubermos tirar partido da nossa situação assim como os nossos antepassados souberam fazer há umas centenas de anos. No passado o mar representava caminho livre para as descobertas, agora temos de nos focar nos recursos que nele podemos explorar. Desde a energia das ondas ao fundo oceânico e as suas fontes geotérmicas, passando pela pesca. Podemos promover a nossa auto-sustentabilidade se soubermos explorar o que o mar tem para nos dar.
 
- Em que consiste a tua investigação/projecto? 
Trabalho em nutrição, e especialmente na manipulação das dietas em aqucultura de modo a modular a resposta imunitária dos peixes. Simplificando, depois de alimentar os peixes com dietas que contenham quantidades de um dado aminoácido superiores ao requerimento básico, avalia-se a sua resistência à doença e conclui-se se esse aminoácido contribuiu ou não para elevar as defesas imunitárias do animal. Eu trabalho especificamente com robalo e tenho estudado o efeito de três aminoácidos: arginina, meteonina e triptofano. Os resultados têm apontado para diferentes efeitos o que seria de esperar já que cada um deles actua por mecanismos distintos. A este tipo de dietas (suplementadas com um determinado ingrediente) chamamos dietas funcionais.
 
- Que aplicações práticas poderá ter o mesmo?
As dietas funcionais são usadas em aquacultura e têm como grande objectivo enaltecer, melhorar, estimular uma dada característica ou função no organismo dos peixes. No presente caso, as dietas suplementadas com aminoácidos poderão ser usadas como medida preventiva contra eventuais episódios de doença que, em contextos de cultivo extensivo, são muito comuns. Paralelamente à vacinação, a aplicação destas dietas permite assim evitar grandes perdas na produção e evitar ao mesmo tempo o uso de antibióticos ou outras substâncias químicas.
 
- Que significado teve para ti este prémio e o que poderá mudar na tua carreira? 
Além da grande surpresa que foi ver o meu trabalho classificado como o melhor a nível regional, claro que este prémio é muito recompensador, provando que a investigação que meu grupo e eu fazemos em conjunto é trabalho de muita qualidade e importância. Além disso prova que, apesar de sermos um país pequeno, cujos recursos em termos científicos infelizmente ainda estão aquém do ideal, somos capazes de fazer investigação de grande valor e que é reconhecido internacionalmente.
 
- Temos assistido a uma grande numero de cientistas portugueses residentes ou “emigrados” a conquistarem importantes prémios. O seu trabalho é aproveitado pelas empresas? Existe a tão proclamada ligação do meio académico ao meio empresarial?
Acho que, se o contacto indústria/meio académico ainda é escasso se deve ao facto de a própria indústria de aquacultura estar ainda pouco explorada no nosso País. Contudo considero que as actuais empresas ligadas à produção de peixe estão bastante disponíveis, estabelecendo diversas colaborações com as Universidades. Existem hoje-em-dia diversos programas de estágio e bolsas a decorrer nessas empresas que acabam por ser benéficas para ambas as partes.
 
- Como encaras o teu futuro?
Admito que com algumas preocupações. Tanto a indústria como a investigação em Portugal na minha área, são sectores um tanto ou quanto precários. Não ter um plano, um caminho definido a seguir às vezes assusta, mas faço por não pensar muito nisso. Foco-me no presente e nas oportunidades que vão surgindo e preparo-me o melhor possível para os cenários que vou encontrando. E quando trabalhamos e nos dedicamos, as oportunidades aparecem.
 
- Para além da paixão pela investigação, quais são os seus outros interesses?

Sempre que há sol e companhia, adoro sair de mota. Fazer passeios pelo País em duas rodas é das coisas que mais me dá prazer. Mas tiro imenso proveito de outros pequenos prazeres: estar com a minha enorme família, viajar com o meu namorado, ler muito e dedicar-me (quando há tempo para isso) a pequenos trabalhos manuais.
fotos: DR