Voluntariado – um testemunho na primeira pessoa

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Beatriz Santos e Sousa Jesus tem 19 anos,  nasceu em Leiria, onde viveu até aos 14 anos, residindo, desde então, em Lisboa. Frequenta o 2º ano de Economia na Católica Lisbon School of Business and Economics e ambiciona uma carreira na área da consultoria ou na Banca. Um mestrado em gestão ou finanças será o próximo passo.

As viagens e o voluntariado são duas das suas paixões e o exercício físico, a ajuda no estudo e a catequese fazem parte das suas actividades.

É uma experiência para a vida, que não deixa ninguém indiferente.

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P: Com que idade começaste a fazer voluntariado?
No primeiro verão em que fui, tinha 18 anos.

P: Qual foi a tua principal motivação?

Senti que teria 3 meses de férias e a ideia de me pôr ao serviço dos outros durante um mês interessou-me bastante.

P: Através de que Instituição praticaste voluntariado? 
Integrei um grupo de 15 jovens, que foi conduzido pelo movimento católico Schoenstatt.

P: Quantas experiências tiveste e em que países?
Desenvolvemos duas missões, em verões consecutivos, em Bafatá, na Guiné-Bissau.

P: O que sentiste ao chegar ao primeiro local de missão?
O primeiro impacto é sempre duro, visto ser uma realidade totalmente oposta aquela em que vivo diariamente. No entanto, com o passar dos dias, e à medida que conhecia os guineenses, fui-me sentindo cada vez mais em casa. Começamos gradualmente a deixar de lado as diferenças, e a agarrar-nos aquilo em que somos todos iguais. Passado uma semana (ou nem tanto), já me sentia mesmo “encaixada” naquela comunidade.

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P: O que mudou em ti depois do voluntariado?
Experiências como esta nunca nos deixam indiferentes. Pessoalmente, mudei a minha visão do mundo e do dia-a-dia. Cheguei ao meu quarto e senti-me mesmo desconfortável. Pensar que naqueles 10 ou 15 metros quadrados tenho mais comodidades e objetos do que a maioria dos guineenses tem na sua casa toda, é algo perturbador… E coisas como deixar a torneira aberta enquanto lavo os dentes agora, que experienciei o quão escassa a água potável, por exemplo na Guiné, é para mim, hoje, impensável.

P: Achas que mudaste a vida de alguém nas acções em que participaste?
Todos nós tivemos certamente um papel importante na vida das pessoas com quem nos cruzámos em Bafatá, tal como eles tiveram na nossa. Ensinamos-lhes imensas coisas, mas acho que quem aprendeu mais, no final de contas, fomos mesmo nós. Aprendemos o que é ser simples, humilde, grato e, sobretudo, feliz com aquilo que temos (que é tão mais do que julgamos, à primeira vista…).

P: O que mais te marcou nelas?
Sem dúvida o grupo de jovens com quem lidámos. A nossa Missão desenvolveu-se durante três verões consecutivos, entre 15 portugueses e 15 guineenses, com o intuito de lhes transmitir este “bichinho” da Missão, de modo a que, no futuro, fossem eles os protagonistas da Missão Guiné, visto que não tornaremos a voltar lá, pelo menos num futuro próximo. Eles valorizaram tanto a nossa ida até eles, e a nossa atenção, que frequentemente nos comovíamos.

Outra coisa que me marcou imenso foram as idas ao hospital, completamente desprovido de condições básicas, e com tantas situações tristes, como casos de crianças subnutridas, mães muito jovens, etc.

P: Vais repetir a experiência?
A Missão Guiné já foi concluída, depois de três anos em cheio. E eu tive a sorte de poder participar em dois desses três anos. No entanto, com o fim dos estudos a aproximar-se, a disponibilidade será certamente cada vez mais escassa. Espero sinceramente vir a desenvolver algo do género no futuro, pois é em experiências como esta que se dá valor ao que se tem, que se cresce interiormente e se percebe o que é ser genuinamente feliz, através de todos os testemunhos com que nos cruzamos.

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P: O que dirias a quem pensasse em fazer voluntariado? 
“Porque é que ainda não te inscreveste?”. Sinceramente, acho que é um grande passo. No meu primeiro ano estava muito reticente e com algum medo, não vou esconder. Mas quando se está lá e se vivem grandes momentos, como os que nós tivemos a sorte de viver, não se quer voltar a Portugal!

É uma experiência para a vida, que não deixa ninguém indiferente.

 

fotos: DR