
No passado dia 25 de maio comemorou-se o Dia da Libertação Africana, o mesmo dia marcou-se com a Homenagem aos associados da Casa de Estudantes do Império (CEI), evento desenvolvido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA). O encerramento teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian com ilustres personalidades de referir: Joaquim Chissano (via videochamada), Jorge Sampaio, Miguel Trovoada e Pedro Pires na qualidade de Ex-Presidentes da República, Ex-Primeiro Ministro francês, membros do Governo Português e da CPLP.
Antes da data, tiveram lugar vários eventos com o mesmo objectivo. As restantes iniciativas foram o Colóquio Internacional CEI: Histórias, Memórias, Legados que decorreu dias 22, 23 e 25 do presente mês também na Fundação Calouste Gulbenkian.
Foi ainda realizada uma edição especial de Fátima Campos Ferreira na RTP1 apelidada A Geração da Liberdade e quem não teve oportunidade de estar presente nos restantes eventos, pode deste modo, em parte, contar com os mesmos rostos e mensagens. Por último, basta ainda fazer referência à Exposição CEI – Farol de Liberdade, na Galeria dos Paços do Concelho, sita na Praça do Município, em Lisboa.
O processo de colonização português foi o mais longo da história das colonizações, sendo os seus pioneiros (séc. XIV), incidindo sob quase seis séculos de existência, desde a Conquista de Ceuta, em 1415, até à concessão de soberania a Timor-Leste, em 2002. No entanto, nesse mesmo período, muitos foram os marcos históricos, importando aqui focar um, que se pode caracterizar como um motor fulcral nos movimentos de libertação das colónias portuguesas, a CEI.
A Casa dos Estudantes do Império surge em 1944, numa visão claramente deturpada de controlo destes mesmos movimentos, transmitindo a opressão e censura levada a cabo no Estado Novo. Os propósitos que lhe foram designados, na centralização, das várias casas de estudantes já existentes ficarem à tutela dos órgãos centrais do Estado, correspondeu a um supérfluo ideal de império, quando no fundo se procurava o controlo político e pessoal sob as mentalidades que tivessem um pensamento desviante, que logo seriam alvo de inquéritos e torturas por parte da PIDE.
No entanto, veio-se a confirmar exatamente o oposto, o convívio, troca de ideias e traços culturais, acabou por desenvolver confiança e desenvolver uma força com base na união dos jovens em prole da contestação da libertação e garantia dos direitos humanos. Sendo que muitas das personalidades que passaram por esta casa, fizeram parte dos vários movimentos de libertação, enquadraram os quadros provisórios de governo e são ainda hoje ícones deste movimento de autodeterminação, como são o exemplo de Agostinho Neto, Amílcar Cabral, entre outros.

[Curiosidade: A CEI reuniu os vários satélites espalhados nas colónias em três secções da CEI em Portugal: Lisboa (sede), Coimbra e Porto; Dentro da CEI passaram pessoas provenientes de várias origens, de entre elas: Moçambique, Angola, Cabo Verde, Timor, Índia, Brasil, Portugal, etc.]
Ao longo do dia 25 de maio, antigos associados, partilharam com os diferentes públicos, as suas interpretações da vivência e passagem na CEI. Sem recorrer a notas os oradores partilharam de coração aquilo que unanimemente descrevem enquanto uma vitória, que embora muito penosa a nível de perdas e violência, permitiu findar a relação colónia-colonizado que perdurava faz séculos.
O evento foi um autêntico sucesso, resta partilhar aqui pequenas mensagens que marcaram o evento:
“Esta possibilidade que temos aqui hoje, é de que podemos olhar para o futuro (…) e partir daquilo que foi a convergência de um certo conjunto de propósitos e ideais, com vicissitudes imensas, dos vários lados… Quando se passa por guerras, polícias políticas, prisioneiros, etc. isso foi muito estendido, houve sofrimento por toda a parte, isso está na história. Agora devemos partir para o futuro e podemos valorizar todas estas circunstâncias, conhecendo por um lado a narrativa de cada um, fazer esse exercício (…) o que interessa é o futuro.” Jorge Sampaio
Reiterou-se ainda a relevância do investimento em mecanismos do presente que permitem a harmonização de uma relação saudável entre estes países que partilham uma língua, o português, como é o exemplo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Fotos: DR