Liza Martins viaja pelo Mundo. Quando a “encontramos” estava em Bogotá na Colômbia. Agora está na Ilha Holbox, no México. Mas dentro de 4 dias estará… Em Tóquio.
Nesta viagem já percorreu o sul do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala e México (só zona sul, mar caraíbas). Dia 23 viaja para Tóquio, Japão. Na Ásia vai visitar Filipinas, Myanmar, Indonésia …. e vai ainda tentar pisar a Austrália e Nova Zelândia. O término será na Índia.
O que não fizer nesta viagem fará na próxima que já está programada.
A Excelência Portugal “esbarrou” com a viajante e quis perceber o que a motivou, o que a inspira e o que “respira”.

Quando se perde uma mãe tão cedo toma-se consciência de que a vida não é um bem garantido, é curta, e assume-se uma herança: a obrigação de sermos felizes por nós e por ela. Pelo menos comigo assim foi!
Quem é Liza Martins?
Nasceu na Venezuela a 12 Maio 1973 e aos 2 anos regressa a Portugal devido a problemas de saúde da mãe. Aos 4 anos perde a mãe e vive uma infância com pai austero e madrasta, com carências de todo o tipo.
Aos 16 anos sai de casa, quando a irmã completa 18. Para trás ficam 16 anos menos bons mas uma vida inteira pela frente para ser feliz.
“Quando se perde uma mãe tão cedo toma-se consciência de que a vida não é um bem garantido, é curta, e assume-se uma herança: a obrigação de sermos felizes por nós e por ela. Pelo menos comigo assim foi!”.
Duas preocupações desde então: sustentar-se e continuar a estudar.
O Percurso profissional
Aos 18 anos muda-se para o Porto e obtém a Licenciatura em Relações Públicas na Universidade Fernando Pessoa. Termina com média de 14 valores. Chegou a ter 3 empregos, acordava às 6h, estudava até tarde, a meio do 1o ano, teve um esgotamento.
No segundo ano da Faculdade ingressa no maior Banco Privado Português, o BCP, onde esteve 20 anos e fez uma carreira brilhante, assim considera. Começou no telemarketing, foi gestora, gerente de vários balcões e responsável regional de negócio do Algarve e Baixo Alentejo. Nos últimos 8 anos foi Gestora da Marca Millennium na Direcção de Comunicação do Banco. Fez tudo o que sonhou dentro do banco. Até mais. Recebeu um prémio de Excelência. Foi proposta a 2.
Entretanto, nunca parou de estudar. Procurava matérias diferentes do que fazia no Banco: Teatro, Protocolo, Fitness, Formação de formadores, Massagens, Línguas e um Mestrado em Marketing.

Posso ser tudo o que eu quiser. Só é preciso trabalhar.
E porque não mudar de vida?!
Em 2012, o Banco atravessa o pior momento de sempre. A operação na Grécia provoca um buraco financeiro crescente e a acção chega a valer apenas 0,8€. O Estado Português intervém na banca portuguesa em geral, impondo uma condição ao Millennium bcp: o Banco tem que emagrecer o seu quadro de pessoal que é demasiado pesado. Até ao fim do ano teria que despedir 600 pessoas. Um ano depois mais 1.200.
Em Novembro o Banco selecciona 700 pessoas. 300 recusam, na sua maioria directores. É criado então um processo de voluntários: “quem quiser sair agora com estas condições (óptima indemnização, crédito habitação e seguros vitaliciamente com taxa de bancários, direito a subsídio desemprego…), voluntarie-se.”
Depois de duas noites à frente de folhas de excel, a pensar em todos os cenários e no que podia fazer depois….decidiu candidatar-se a sair. Não a queriam deixar sair: “o Banco não tem que pagar a pessoas imprescindíveis como tu e com a tua competência, para saírem do Banco.”
Foi até ao Presidente do Banco para conseguir sair. Já não conseguia olhar para trás. Sabia exactamente o que iria fazer dali em diante. No dia 12-12-12 assina o seu contrato de rescisão voluntária com o Banco.
A viagem
No dia 9 Outubro de 2014 começa a viagem no Brasil.
Percorre o Sul do Brasil, atravessa o país até ao Pantanal e começa a subir, sempre por terra, pela Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala e México. Dia 23 apanha um voo para Tóquio. Pretende visitar os países da Ásia que ainda não conhece e pelos quais sente atracção. Depois vai tentar Austrália, Nova Zelândia e Índia.
Este é o plano mas está tudo em aberto. Neste momento, o seu único desejo, é continuar a viajar. Consegue imaginar-se a fazer isto por largos anos. Sente-se em total sintonia com o Universo.
Sustenta-se com o dinheiro que juntou nos dois últimos anos. Até agora, em quase 6 meses de viagem, gastou 5.000€ incluindo os voos e todo o tipo de despesas. Mas cada dia aprende novas formas de poupar. No Brasil gastou 36€ por dia. Na Colômbia 17€. Não anda de táxi, não usa lavandarias, não frequenta restaurantes e não lancha em pastelarias. Compra fruta, bebe água da torneira, procura as companhias de transportes mais baratas, faz os percursos a pé sempre que possível e fica sempre em quartos partilhados. Compras só o estritamente necessário para viver.
Enfim…milhares de formas para viver com pouco…muito pouco e não precisar de mais do que isso.
Porque viaja a Liza?
Viajar para si é ter os 5 sentidos bem despertos e não deixar escapar nada.
Não usa phones. Gosta de ouvir tudo, a música tradicional que passa nos transportes públicos, os gritos estridentes das crianças, as discussões dos adultos, as gargalhadas dos adolescentes.
Gosta de comer nos mercados, as comidas tradicionais, sentar-se com os locais à mesa, comer da mesma travessa e com as mãos, sem preconceitos. E eles apreciam. Gosta de agarrar a mão de alguém que a tratou bem e sentir a pele calejada ou delicada. E abraça todos aqueles com quem privou mais de 1h. Gosta do cheiro da fruta, das comidas de rua, do pão, dos perfumes, da chuva e do cheiro característico da cidade.
Viaja porque se sente afortunada e livre.

Como começou este bichinho?
A partir daí passou a viajar 2 a 3 vezes por ano. Todos os dias de férias eram para viajar. E a sua vida girava em torno disso. Sempre poupou em tudo para viajar.
Quando alguns amigos começaram a viajar por longos períodos e sozinhos sentiu que esse era o seu caminho. Um dia decidiu ir à Argentina sozinha. 3 semanas, de Iguaçu à Patagónia. Nessa viagem percebeu que tinha sido feita para viajar sozinha. E sonhava com o dia em que podia viajar por tempo indeterminado, como os viajantes com quem se cruzava nas suas viagens.
Mal surgiu a oportunidade de sair do Banco a única certeza que tinha era a de ia dar a volta ao mundo, por tempo indeterminado.

A sensação de desapego é fantástica. A Liberdade é total.
Como está a correr a experiência?
Muito melhor do que alguma vez imaginou. Está mais feliz, leve e completa do que nunca! A sensação de desapego é fantástica. A Liberdade é total. A bagagem de 9 kg é mais do que suficiente, os quartos e banhos partilhados são perfeitos, os autocarros velhos são típicos e o escasso orçamento leva-a onde quer … não precisa de mais.
Nunca lhe deu tanto prazer cozinhar, lavar a roupa, gerir tempo, dinheiro e a passagem pelos países. Não se canso de terminais de autocarros, de fazer e desfazer mochila, de pesquisar hostels e atracções nos novos lugares, de estar sempre a mudar.
Todos os dias, mesmo todos, são ricos e especiais.
Se pudesse, passava o resto dos seus dias a viajar. Não por não estar a trabalhar (adora trabalhar) mas por estar todos os dias a ver coisas novas.
O Mundo é imenso e surpreendente. Não faz sentido não conhecê-lo o mais que possa. Vê por si, pelos que não podem ver, pelos que gostariam de ter visto. É a sua missão, e está a cumpri-la muito FELIZ.
fotos e texto: Liza Martins
edição: Miguel Marote Henriques
