
Não há muito tempo, Nelson Carvalheiro, foi declarado Travel Blogger 2014 da Europa. Um português com trinta e três anos, cujas aterragens em terras diferentes ultrapassa a idade! Nelson não fica por aí e partilha as suas experiências com o mundo: People, Travel and Food. Deixando uma marca da sua terra natal, Portugal, em cada local que conhece! As suas três paixões são: pessoas, viagens e comida; conseguindo conciliá-las numa só profissão.
Nos tempos que correm, com grandes vagas de emigração dos portugueses, embora não se encontre em Portugal, o seu caso não se deve a razões económicas, correto? Como acaba por desenvolver este percurso profissional?
Sim, de facto a razão da minha vinda para a Alemanha não é por razões económicas. Eu fui diretor de dois hotéis Boutique em Lisboa durante alguns anos, isto antes de me mudar para a Alemanha. Um dos locais era o Palácio Belmonte em Lisboa, um local muito exclusivo, é um palácio privado, com construção do século XV, de herança moura e romana e onde os preços médios rondam os mil euros por noite.
Durante este período de tempo foi quando tive a oportunidade de começar a viajar mais e o blogue foi criado no sentido de eu contar as histórias das viagens que fazia junto de hóspedes do Palácio Belmonte. Na qualidade de ser um palácio muito privado e para além de ser diretor, eu acompanhava os hóspedes de uma maneira muito pessoal, muito próxima, no sentido de mostrar o que era Lisboa e Portugal para este tipo de cliente que é high-net-worth individual que gosta do sentido de estar nas localidades, isto é, um cliente que gosta muito de viajar muito pelo mundo e conhecer o destino em profundidade.
Basicamente foi o que fiz no Palácio Belmonte, o qual me fez também começar a contar histórias. As minhas férias eram sempre feitas com estes clientes porque eles após se sentirem tão bem acompanhados em Portugal, acabavam por me convidar a visitar os seus países. Fui passar três semanas à Califórnia, estive no Brasil, Itália, entre outros destinos na Europa e, por acaso, voltando à questão, uma das pessoas que foi cliente do Palácio Belmonte e quem eu visitei, é a minha atual namorada, a Jasmin que é alemã e mora em Berlim…
A razão pela qual me mudei para Berlim é porque me apaixonei e a razão desta viagem é por amor e foi depois de alguns meses de a ter conhecido que entreguei a minha carta de demissão no Palácio Belmonte, mudei-me para Berlim e foi a altura em que comecei o blogue a partir daqui, mesmo para contar estas histórias, destas minhas viagens com estas pessoas do Palácio Belmonte mas depois ao mesmo tempo comecei a contar histórias sobre Portugal e sobre o que é que é viajar pela gastronomia.
Pedia-lhe que nos descrevesse, em breve palavras, o seu percurso académico e a forma como este lhe proporcionou exercer a atual profissão.
Em termos de universidade eu tenho o curso de engenharia, quer queira quer não. Depois quando comecei a exercer funções no Grupo Lena na parte dos hotéis, estive no Brasil, na condução de um hotel, onde depois passei para a parte de gestão. Tenho uma pós-graduação em Gestão Hoteleira e tenho um master em Hospitality Management. O que eu fiz, no intervalo de sair de Lisboa para Berlim, foi em Londres, onde estive durante dois meses, para tirar um curso de fotografias de viagens/ jornalismo de viagem. Foi aqui que aprendi a dar um bocado mais corpo e sentido às histórias que escrevo, para não ser só uma visão pessoal, para ter alguma técnica de escrita.
E o que sente ao exercer a sua profissão?
Eu sinto-o de uma maneira muito singular, porque eu não sou jornalista de formação e a única coisa que faço, e é o sentido que tenho desde que comecei a fazer o blogue, é contar histórias de viagens. É a única coisa que eu quero fazer, contar histórias que sejam inspiradoras para os meus leitores e que os motive a virem a replicar a experiência que eu tive. Como é óbvio esta pequena formação qu tive facilitou a escrita, a informação visual, a fotografia, para que estas sejam mais inspiradoras para os meus leitores.
Que idade tinha quando fez a sua primeira viagem?
Creio que a minha primeira viagem foi para a Grécia, tinha eu quatro ou cinco anos, lembro-me que eles tinham umas frutas enormes, umas cerejas que eram quase do tamanho de maças e umas melancias ainda maiores, quase do tamanho da roda de um carro. Isto deve ter sido em 1985/ 86, o que ficou foi esta pequena ideia de viajar, embora eu não tenha feito grandes viagens até cerca de 2010, fiz umas antes no meu percurso de hotelaria mas viagens profundas foi mesmo só a partir de 2010.
No seu blogue o mapa tem exatamente 49 (quarenta e nove) pins! Corresponde exatamente aos locais que visitou, ou…?
Eu creio que agora o meu story map têm atualmente cerca de setenta e nove, ou quase oitenta pins e considero mesmo, tal e qual está escrito, que é: todos os locais que eu visitei e que caem dentro destas três ou quatro formas que tenho de contar histórias. Que são os meus blogue posts, ou sítios onde eu tirei fotografias interessantes, ou pequenos detalhes que encontrei interessantes nas minhas viagens. Em vez de fazer categorias por uma pequena viagem por locais ou por destinos, usei o mapa, o que permite às pessoas verem dentro do mapa-mundo ver os locais que visitei e saberem o que escrevi sobre aqueles lugares.
Quais, dos locais que ainda não visitou, tem mais curiosidade?
Acho que o primeiro que está na minha lista de viagens é o Paquistão, mas o Paquistão é um destino ainda muito pouco conhecido que costuma ter cerca de dois milhões de visitante por ano, que representa um número relativamente baixo. Mas suscita-me curiosidade, para mim é um país muito exótico, porque mistura toda aquela que é a rota da seda, com a comunidade mongol, com a influência árabe e ainda por cima toda esta parte do pós-União Soviética que ainda está muito presente no local. Creio que é um destino que tem muito, muito potencial, simplesmente pelo facto de ser muito cru e nem sequer falamos de não haverem guias turísticos, onde nem sequer há rede de telemóvel nem qualquer informação turística.
Assim como Burma foi um dos destinos mais falados nos últimos dois/ três anos, eu creio que o Paquistão vai ser um destino muito interessante e que eu gostava de ir. Outro local muito interessante que eu gostaria de ir é as Ilhas Quirimbas, em Moçambique, que são ainda de sobremodo pouco exploradas e que se já toda a gente conhece o que é Zanzibar e toda esta parte da costa oriental africana, as Ilhas Quirimbas estão paradas no tempo.
Há sítios onde poucas coisas mudaram desde os descobrimentos. Elas eram um ponto de paragem para o Vasco da Gama e para todos os descobridores que seguiam rumo à Índia. É então um bocado de Índia misturada com Portugal, misturada com África, misturada com cultura Árabe e acho que é um sítio de sonho que eu quero ir ainda este ano.
Verifica-se que leva sempre consigo um pouco de Portugal e partilha-o com o mundo. Para além de ser atualmente Embaixador da Aptece, quais as razões que o levam a fazê-lo?
Sim exatamente, eu levo sempre um bocadinho de Portugal para todo o mundo, creio que é uma bandeira que eu tenho comigo, apesar de eu não ter uma física nem andar com um Galo de Barcelos atrás, não julgo que seja necessário. Nós somos um país que tem uma tremenda herança cultural e influência em todas as partes do mundo, não há nenhuma viagem que eu tenha feito onde não se veja a influência da cultura portuguesa, seja em Coqueiral, na Índia onde o Vasco da Gama aterrou, seja no Brasil ou mesmo cá na Europa.
Acho que é incontornável nós não falarmos de Portugal quando se fala em viagens, viagens pelo mundo, e é algo que eu tenho sempre presente quando falo com as pessoas, com os meus companheiros de viagens ou entidades de turismo com que falo. É sempre muito bom apresentar esta ideia de que tenho o orgulho de ser português, apesar de não morar em Portugal, mas que tenho esta entidade cultural bem presente.
A minha razão para ser Embaixador da Aptese… Eu sou um rapaz da quinta, os meus avós ainda têm uma quinta de produção agrícola na Marinha da Ondas, perto da Figueira da Foz e foi lá que eu cresci, foi lá que eu comecei a dar valor ao Portugal gastronómico tradicional. Quando recebi o contacto da Aptese, para trabalhar com eles, para mim foi obvio que é algo com o qual me identifico profundamente: a gastronomia.
Eu acho que a gastronomia é um grande inspirador para a viagem a um determinado destino, encaro-a como a cultura que é comestível! Algo que fica dentro de nós, que nós saboreamos, que nos despoleta muito mais emoções que qualquer visita a museus, ou olhar para um quadro ou visitar uma igreja. É algo de interesse que fica dentro do nosso corpo e nada melhor do que eu falar da nossa gastronomia portuguesa nas minhas viagens pelo mundo, tentando dizer às outras pessoas que não é uma questão da minha gastronomia ser melhor, elas são todas diferentes, mas Portugal tem o melhor peixe do mundo!
Afirma que em termos de pequenas ambições pessoais não conhece limites. Quais são as ambições de momento?
Creio que as minhas ambições neste momento são estabelecer o www.nelsoncarvalheiro.com como uma plataforma de inspiração de viagens. Acho que está dimensão do blogue já ultrapassou muito ser as histórias de viagem do Nelson, com a quantidade de pedidos que eu recebo todos os dias do meu email para visitar x destino, ou fazer a avaliação a x hotel, ou falar de x gastronomia… Não sou capaz de ir a todo o lado, nem é o meu objetivo, o que eu fiz foi criar uma rede de amigos que conheço pessoalmente e para quem distribuo estas viagens, das recomendações que eu tenho.
Neste momento estas pessoas, além de eu viajar, viajam por mim, porque assim conseguimos juntar uma visão crítica e honesta do território, principalmente nas viagens pela gastronomia e este grupo de pessoas que eu tive à minha volta, é mesmo com esse sentido de pessoas com quem eu me identifico nas minhas viagens… E que tem um contar histórias parecido com o meu. Como é obvio todo o conteúdo que é colocado online é sempre decorado por mim.
Fotos: DR